segunda-feira, 7 de março de 2016

UM CÉREBRO QUE NÃO GOSTA DE CEBOLADA



Não esperava escrever neste blog antes do fim do campeonato, glorificando o novo Benfica de Rui Vitória ou dando os parabéns ao Porto ou Sporting, conforme um deles se sagrasse campeão. O despedimento de Lopetegui dos Dragões - e com a equipa em permanentes altos e baixos sob o comando de José Peseiro - esta minha pretensão inicial ficou sem algum sentido, mas com os Leões a comandar a classificação, ainda restava alguma esperança de poder fazer um post que cumprisse o objetivo original.


É do conhecimento geral que eu nunca gostei de Jorge Jesus como treinador do Benfica e fiquei muito feliz que ele mudasse de clube. Os troféus que ele conquistou pelo Benfica foram conseguidos à custa das fragilidades dos adversários, nunca tendo defrontado, nos anos em que ganhou, opositores à altura e, quando o fez, perdeu sempre - estando ainda na memória o "ano horribilis" de 2012/2013. em que perdeu tudo, com todas as possibilidades de ganhar, sendo que as derrotas consecutivas nas diferentes finais das diferentes competições, foram perdidas (principalmente) por más opções suas e, acima de tudo, pela deficiente preparação que dá às suas equipas - coisa que parece arrastar-se pelo tempo fora.

A sua obceção pelos encarnados, faz com que, enquanto treinador do Sporting, dedique mais tempo a falar do clube da Luz, que a preocupar-se com o Sporting, onde, sejamos sinceros, tem aplicado a habitual técnica de deitar fora troféus - o Sporting disputa exclusivamente a Primeira Liga, tendo abdicado de todas as outras competições - e, mesmo assim, de forma frágil, como se viu no sábado passado, onde foi incapaz de ultrapassar um Benfica receoso, sem futebol de qualidade e decididamente pouco ambicioso.

À primeira vista, pode parecer que o Sporting não mereceu perder o jogo de sábado, mas olhando com mais atenção, os Leões limitaram-se a correr, circulavam como desalmados, mas, na realidade, tiveram, durante todo o jogo, menos oportunidades flagrantes que os dedos de uma mão. O resto limitou-se a um fogo de artificio mal amanhado, com os jogadores desesperados em correria por todo o lado, com alma, mas, afinal, sem futebol. Felizmente, os benfiquistas começam a ver a má qualidade que imperava no clube da Luz, quando orientado por Jorge Jesus.


Ficou famosa a feliz frase de Rui Vitória sobre cebolada, como a frase de Jorge Jesus sobre cérebros. Pode dizer-se que, no sábado, o Benfica comeu o Sporting de cebolada, retirou-lhe a liderança do campeonato no seu próprio estádio e, ao mesmo tempo, pode também dizer-se que os Leões são um corpo a começar a rejeitar o transplante de cérebro.

 Alguns sportinguistas, liderados pelo seu presidente, que insiste em ser mais adepto que diretor, continuam a não querer ver o que está à sua frente. Um Sporting assim-assim, em evidente deficit físico de jogo para jogo. Não sabemos onde cada uma das equipas vai estar, em termos de classificação, quando esta Primeira Liga acabar e, temos de reconhecer, os 2 pontos de avanço do Benfica são muito frágeis e curtos para os encarnados poderem relaxar. No sábado foi óbvio que, a partir dos 15 ou 20 minutos da segunda parte, já não tinham pernas, nem pulmão para acompanhar a velocidade dos jogadores de verde e branco. Tiveram cérebro para se recolher na defesa e não arriscar jogar no campo todo.


O Benfica não fez um bom jogo - mas quem quer saber de jogar bem, quando o objetivo é apenas ganhar? Marcou um golo na primeira e (quase) única oportunidade que teve, deixando ao Sporting as despesas da correria, da angústia e do desespero. O golo dos Leões esteve sempre muito perto, mas no momento da última decisão - aquela que conta na verdade -, por azar uma vez e por incompetência mais duas ou três vezes, os jogadores sportinguistas falharam sempre. O guarda redes Ederson - que substituiu Júlio César por lesão - fez, na verdade, duas defesas difíceis, tendo-se limitado, nos restantes casos, a intervir de forma mais ou menos fácil e autoritária.

É verdade que o Sporting correu muito e teve muita posse de bola, mas a inoperância do Benfica foi muito mais opção dos encarnados que imposição dos Leões. O Benfica abdicou da segunda parte do jogo - ou, pelo menos, abdicou de tentar ampliar a vantagem - limitando-se a tentar segurar os jogadores adversários, que corriam como loucos, circulavam o esférico de um lado para outro, conseguindo entrar na defesa adversária algumas vezes, mas acabando tudo numa inconsequência confrangedora (para os sportinguistas!)

Esta vitória de sábado, conseguida em pleno estádio de Alvalade - onde imperava um Leão arrogante e de vistas curtas -, tem vários sabores agri-doces e deixa os encarnados em euforia, coisa que deveriam evitar. O sabor mais doce está no facto de ter roubado o primeiro lugar ao Sporting - coisa que os homens de Alvalade já entendiam como propriedade sua; o sabor mais amargo é que o Benfica  ainda não ganhou músculo suficiente para disputar a exigente Liga dos Campeões, ao mesmo tempo que a competitiva Primeira Liga.


O Sporting está ferido no seu orgulho, mas entre Benfica e Sporting as disputas estão resolvidas por esta época. O Leões vão ter de descarregar a sua raiva noutras paragens, ou esperar por uma competição do próximo ano para se vingar. Considerando que ainda não jogaram no Dragão, que espreita ansioso o segundo lugar - que dá acesso à milionária Liga dos Campeões -, os senhores de Alvalade devem preocupar-se tanto com o que está atrás, como o que está à frente. Estão como que entalados entre a glória total e o desespero absoluto.


O Benfica está em euforia total - saboreando esta vitória de sábado como uma cebolada. Na quarta-feira vão à Rússia, enfrentar o rico Zenit para a Liga dos Campeões e embora comecem esta segunda parte da eliminatória com uma pequena vantagem, não acredito que seja suficiente e, caso decidam abdicar do jogo como o fizeram no sábado, estão sujeitos a sofrer uma derrota humilhante, porque a estrela que brilhou na baliza encarnada em Alvalade, não se deixa enganar por equipas que não lutam pela vitória - ela brilha para os campeões mas é implacável para os cobardes.