domingo, 14 de julho de 2013

O QUE MENOS O SPORTING DESEJAVA


O que o presidente Bruno de Carvalho menos precisava e desejava neste momento, em que tenta recuperar o prestígio do Sporting, quer a nível desportivo que financeiro, era de uma novela como a que está a acontecer com Bruma!


Jornal SOL, 14Jul2013:

Armindo Tué Na Bangna. Assim se chama o novo grande talento formado no Sporting, que todos conhecem por Bruma. Mais cedo ou mais tarde, deixará Alvalade, como os outros da sua estirpe que o antecederam.
A história indicia que será mais cedo do que mais tarde. E os acontecimentos da última semana sugerem até que pode ser o mais precoce a partir: os seus representantes pediram em tribunal a nulidade do último ano de contrato que o liga aos 'leões' e o jovem nascido na Guiné-Bissau há 18 anos ainda não compareceu nos treinos.
Entre os principais jogadores forjados nas camadas jovens do clube nos últimos 30 anos, há muitos pontos de contacto. Salta à vista um: o Sporting é incapaz de os segurar por muito tempo.
Com excepção de Figo e Moutinho, nenhum deu o contributo à equipa principal em mais de duas épocas. Futre, Dani, Simão, Quaresma, Ronaldo e Nani, as outras jóias mais preciosas criadas em Alvalade, saíram todos antes dos 21 anos.
Visto por outro ângulo: estes nove jogadores actuaram em 715 partidas pelo Sporting, mais ou menos o número de aparições de Paul Scholes no Manchester United (718) e bem abaixo das 941 contabilizadas por Ryan Giggs.
O campeão inglês foi dos clubes que 'pescaram' em Alvalade. Ronaldo 'mordeu o isco' ao fim de apenas 31 jogos e Nani demorou 76. Futre, o precursor, só precisou de 28 para fazer o FC Porto abrir os cordões à bolsa. Por motivos distintos, Dani ficou-se pela metade. E Bruma, com apenas 13, parece estar à beira de um novo recorde.
João Moutinho
Já tinha assumido a vontade de partir dois anos antes, mas só em 2010 a concretizou. Foi o que mais tardou em mudar de ares, entre os nove jogadores referidos, mas não evitou o rótulo de traidor. O presidente José Eduardo Bettencourt catalogou-o de «maçã podre», acusando-o de um «comportamento deplorável» para forçar o divórcio: «Todos os dias ameaçava que não vinha à academia ou recusava-se a treinar». Seguiu para o FC Porto, por 11 milhões de euros, dez anos após ter entrado em Alvalade, com 13.
Nani
Duas épocas em ascensão valeram-lhe o convite do Manchester United, em 2007. Os ingleses deixaram nos cofres leoninos a maior verba alguma vez encaixada com uma transferência, cobrindo a cláusula de rescisão de 20 milhões de euros e pagando um extra de 5,5 milhões. «É bom que os sportinguistas percebam que não vamos ficar ricos, mas é um balão de oxigénio», soltou Filipe Soares Franco. O presidente acrescentaria que o clube tinha «a obrigação de concretizar o negócio», até porque o extremo chegado a Alvalade aos 16 anos tinha «direito ao seu progresso».
Cristiano Ronaldo
O jogo de apresentação, em Agosto de 2003, frente ao Manchester United, acelerou o adeus. Alex Ferguson já tinha acordo para o levar para Inglaterra, mas a ideia era deixá-lo mais um ano a rodar em Alvalade. Só que a exibição espantosa do madeirense tornou-se assunto de conversa no balneário inglês. E a pressão dos jogadores sobre o treinador terá ajudado a que, ao aterrar em Manchester sem bagagem, à espera de voltar ao Sporting após ser apresentado, Ronaldo tenha ficado logo de vez. O United pagou 15 milhões de euros (cláusula de rescisão) pelo prodígio de 18 anos que os 'leões' formaram desde os 12.
Quaresma
Era ele o titular com Laszlo Boloni, que quase sempre o preferiu a Ronaldo e teimava em não os utilizar em simultâneo. E por isso não estranhou que tivesse sido o primeiro a sair no Verão de 2003. O Barcelona chegou-se à frente com seis milhões de euros e o Sporting concordou. «É uma grande perda, mas nunca escondemos que nesta fase de recuperação da SAD era necessário realizar mais-valias», justificou José Eduardo Bettencourt, a dias de assumir a liderança da SAD. Quaresma estava em Alvalade desde os sete anos, quando um olheiro foi observar o irmão mais velho e recomendou o mais novo também. E saiu aos 19, após duas épocas nos seniores.
Simão Sabrosa
Deixou a casa dos pais, em Trás-os-Montes, aos 12 anos. Aurélio Pereira, director da prospecção do Sporting, assumiu o papel de tutor e viu-o chegar à equipa principal com 17, pela mão do treinador Octávio Machado. Depressa o extremo se afirmaria como titular, até entrar no radar do Barcelona, dois anos depois. Os espanhóis accionaram a cláusula de rescisão de 2,8 milhões de contos (14 milhões de euros) e o Sporting manteve-se à margem. Já com o negócio fechado, o presidente José Roquette escreveu ao jogador, segundo este revelou ao Record: «Aconselhava-me a ficar mais um ano, mas dizia que respeitava a minha decisão e desejava-me felicidades».
Dani
Ao contrário dos restantes, não foi o dinheiro que o resgatou de Alvalade. Descoberto por coincidência aos 13 anos - brincava com a bola na rua quando passou Aurélio Pereira -, desde cedo fez crescer água na boca. A carreira parecia lançada quando, em 1995, foi considerado o segundo melhor jogador do Mundial de sub-20. Mas o esquerdino não soube responder às exigências do futebol profissional. O assédio das mulheres, o prazer pelas noitadas e o fascínio pela moda levaram-no por outros caminhos: um ano após a estreia nos seniores já estava a rumar ao West Ham, por empréstimo, e acabaria no Ajax por uma verba irrisória. Do Sporting, ficaram 14 jogos no currículo.
Figo
Fez quatro épocas ao mais alto nível, na sequência do título mundial de sub-20, em 1991. O facto de no seu tempo ainda existirem limites à utilização de estrangeiros na Europa ajuda a explicar por que não partiu mais cedo. Em 1995, desagradado com as condições salariais em Alvalade, recusou a renovação de contrato apresentada por Sousa Cintra. Esteve para rumar a Itália, mas comprometeu-se com dois clubes e virou-se para Barcelona. O Sporting não recebeu mais do que 400 mil contos (2 milhões de euros) por um jogador de topo que forjou desde os 12 anos.
Futre
Com 18 anos, recebia 70 contos por mês no Sporting e o FC Porto acenou-lhe com 27 mil contos em três épocas. Pediu 18 mil ao Sporting para ficar, mas não chegou a dialogar com o presidente João Rocha. O dirigente com quem falou terá pensado que era «bluff», contou Futre numa entrevista ao SOL, em 2011. Rescindiu contrato alegando falta de condições psicológicas e, ao fim de sete anos a atravessar o Tejo desde o Montijo, poisou na Invicta. Ao DN, Aurélio Pereira descreveu assim a primeira vez que o viu jogar, com 11 anos: «Aquele ratinho impressionou-me. Era muito mais pequeno que os outros, mal podia com a bola, mas só sabia ir para a frente». Na equipa principal do Sporting, nem chegou aos 30 jogos a impor essa imagem de marca.
rui.antunes@sol.pt

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