segunda-feira, 16 de maio de 2016

A NIKÉ ENGANA-SE?

Afirmei aqui, no inicio do campeonato, que cá voltaria para felicitar a equipa vencedora - sem esquecer que, na altura, se disputava o jogo das palavras entre a traição de Jorge Jesus ao Benfica e a possibilidade de Rui Vitória não ser o homem certo para o lugar que, de repente, passou a ocupar na direção técnica dos encarnados.

Niké, a deusa grega da vitória

Também já aqui falei da Niké, a deusa grega da vitória, a que "sopra" no momento da decisão final, para ajudar o campeão, aquele "sopro" fundamental que pode proporcionar uma fração de segundo, que separa o primeiro classificado de todos os outros que ficam atrás.

Classificação final. Fonte: abola.pt
 Dito assim, até parece que a Niké pode ser indiscriminada na sua ajuda. Mas todos sabemos como os deuses gregos são caprichosos, às vezes cruéis mesmo. O "sopro" da Niké nunca é aleatório e ele só ajuda o verdadeiro campeão, aquele que merece transportar a coroa da vitória, aquele que trabalhou para a glória. Só os campeões podem beneficiar da "ajuda" da deusa. A Niké nunca se engana.

José Peseiro - treinador do F.C.P.
Comecemos então pelo Porto: e posso deixar já a minha declaração de intenções - o despedimento de Julen Lopetegui foi, em minha opinião, um erro tático de Pinto da Costa, principalmente numa altura em que os Dragões lutavam, ponto a ponto, com o Benfica e o Sporting, pelo lugar cimeiro da classificação.

A entrada de José Peseiro precipitou a queda do Porto - apesar da disputa da final da Taça de Portugal, troféu menor para uma equipa que aspira a outros voos europeus.

 O Porto acabou em 3º lugar, sem fama e sem glória, a 15 pontos do 1º e a 13 pontos do 2º. Não me parece que fosse, no inicio, a aspiração dos Dragões. A Taça de Portugal, caso venha a ser ganha, é troféu de pouca importância para este descalabro no campeonato.

Vamos agora ao que interessa: um campeonato disputado entre Benfica e Sporting, numa luta ponto a ponto, quase "corpo a corpo". O que os distinguiu, para justificar o facto dos encarnados acabarem à frente dos Leões, ainda para mais, se pensarmos que as Águias perderam três dos quatro jogos que fizeram contra os rivais?


Em primeiro lugar, parece-me que o Sporting passou demasiado tempo a falar do Benfica, enquanto o Benfica se concentrava em si próprio. Os Leões assumiram a sua superioridade como um dado adquirido, enquanto as Águias se preocupavam em melhorar a sua performance competitiva. Os homens de Alvalade supuseram que a sua condição era definitiva; os homens da Luz souberam que há sempre um passo em frente que é preciso dar.

Jorge Jesus - treinador do S.C.P.
Há um responsável por isso? Por esse alheamento de si próprio, que, de repente, se tornou quase imagem de marca dos Leões ao longo de toda a época? Talvez: chama-se Jorge Jesus. Os grandes campeões sabem ganhar - e o Sporting nunca soube ser um digno vencedor, principalmente contra os rivais benfiquistas; os grandes campeões sabem que há uma linha muito ténue entre a vitória e a derrota e, por isso, respeitam acima de tudo os adversários derrotados, sabendo que, em qualquer altura, podem estar do outro lado da barreira.
Rui Vitória - treinador do S.L.B.
 O treinador Jorge Jesus nunca soube ser um digno vencedor, desprezando os seus adversários como se não houvesse a mais pequena possibilidade de alguma vez perder - defeito este que já lhe é conhecido, uma das razões porque eu nunca fui grande admirador do seu desempenho, mesmo quando treinava o Benfica.

 

O Benfica começou a ganhar este campeonato em casa do rival, quando ganhou o primeiro dos jogos que não podia perder. Quando Bryan Ruiz falhou o único golo que não podia falhar, o Benfica começou a sua escalada de campeão, deixando para trás o rival que entrara em campo convencido de uma tal superioridade, que nada poderia derrubá-lo.


Depois de três derrotas humilhantes contra o rival, o Benfica percebeu que, mesmo sem ter feito um jogo brilhante, conseguira a única vitória que contava. Estava em primeiro lugar do campeonato, posição conseguida no campo do rival, que nunca pusera a hipótese de que a vitória não era um dado adquirido, mas uma luta constante, minuto a minutos, milímetro a mililitro. É a mortais destes que a Niké dá a sua ajuda, não aos outros.A fração de segundo em que Brian Ruiz falhou o golo do campeonato, foi o mesmo momento em que a deusa decidiu que o Benfica merecia; o Sporting não! E a deusa nunca se engana!

Mitroglou e Jonas - o ataque do Benfica
É verdade que o Sporting seria um digno campeão. Apresentou um futebol consistente e Jorge Jesus tornou o jogo da equipa atraente - competência que todos lhe reconhecem. Mas um campeonato não se ganha como se aprecia um Picasso. O Benfica ganhou os jogos que não podia perder; os seus adversários não. Sim, perdeu todos os jogos contra os seus rivais, menos um: aquele que realmente contava.

segunda-feira, 7 de março de 2016

UM CÉREBRO QUE NÃO GOSTA DE CEBOLADA



Não esperava escrever neste blog antes do fim do campeonato, glorificando o novo Benfica de Rui Vitória ou dando os parabéns ao Porto ou Sporting, conforme um deles se sagrasse campeão. O despedimento de Lopetegui dos Dragões - e com a equipa em permanentes altos e baixos sob o comando de José Peseiro - esta minha pretensão inicial ficou sem algum sentido, mas com os Leões a comandar a classificação, ainda restava alguma esperança de poder fazer um post que cumprisse o objetivo original.


É do conhecimento geral que eu nunca gostei de Jorge Jesus como treinador do Benfica e fiquei muito feliz que ele mudasse de clube. Os troféus que ele conquistou pelo Benfica foram conseguidos à custa das fragilidades dos adversários, nunca tendo defrontado, nos anos em que ganhou, opositores à altura e, quando o fez, perdeu sempre - estando ainda na memória o "ano horribilis" de 2012/2013. em que perdeu tudo, com todas as possibilidades de ganhar, sendo que as derrotas consecutivas nas diferentes finais das diferentes competições, foram perdidas (principalmente) por más opções suas e, acima de tudo, pela deficiente preparação que dá às suas equipas - coisa que parece arrastar-se pelo tempo fora.

A sua obceção pelos encarnados, faz com que, enquanto treinador do Sporting, dedique mais tempo a falar do clube da Luz, que a preocupar-se com o Sporting, onde, sejamos sinceros, tem aplicado a habitual técnica de deitar fora troféus - o Sporting disputa exclusivamente a Primeira Liga, tendo abdicado de todas as outras competições - e, mesmo assim, de forma frágil, como se viu no sábado passado, onde foi incapaz de ultrapassar um Benfica receoso, sem futebol de qualidade e decididamente pouco ambicioso.

À primeira vista, pode parecer que o Sporting não mereceu perder o jogo de sábado, mas olhando com mais atenção, os Leões limitaram-se a correr, circulavam como desalmados, mas, na realidade, tiveram, durante todo o jogo, menos oportunidades flagrantes que os dedos de uma mão. O resto limitou-se a um fogo de artificio mal amanhado, com os jogadores desesperados em correria por todo o lado, com alma, mas, afinal, sem futebol. Felizmente, os benfiquistas começam a ver a má qualidade que imperava no clube da Luz, quando orientado por Jorge Jesus.


Ficou famosa a feliz frase de Rui Vitória sobre cebolada, como a frase de Jorge Jesus sobre cérebros. Pode dizer-se que, no sábado, o Benfica comeu o Sporting de cebolada, retirou-lhe a liderança do campeonato no seu próprio estádio e, ao mesmo tempo, pode também dizer-se que os Leões são um corpo a começar a rejeitar o transplante de cérebro.

 Alguns sportinguistas, liderados pelo seu presidente, que insiste em ser mais adepto que diretor, continuam a não querer ver o que está à sua frente. Um Sporting assim-assim, em evidente deficit físico de jogo para jogo. Não sabemos onde cada uma das equipas vai estar, em termos de classificação, quando esta Primeira Liga acabar e, temos de reconhecer, os 2 pontos de avanço do Benfica são muito frágeis e curtos para os encarnados poderem relaxar. No sábado foi óbvio que, a partir dos 15 ou 20 minutos da segunda parte, já não tinham pernas, nem pulmão para acompanhar a velocidade dos jogadores de verde e branco. Tiveram cérebro para se recolher na defesa e não arriscar jogar no campo todo.


O Benfica não fez um bom jogo - mas quem quer saber de jogar bem, quando o objetivo é apenas ganhar? Marcou um golo na primeira e (quase) única oportunidade que teve, deixando ao Sporting as despesas da correria, da angústia e do desespero. O golo dos Leões esteve sempre muito perto, mas no momento da última decisão - aquela que conta na verdade -, por azar uma vez e por incompetência mais duas ou três vezes, os jogadores sportinguistas falharam sempre. O guarda redes Ederson - que substituiu Júlio César por lesão - fez, na verdade, duas defesas difíceis, tendo-se limitado, nos restantes casos, a intervir de forma mais ou menos fácil e autoritária.

É verdade que o Sporting correu muito e teve muita posse de bola, mas a inoperância do Benfica foi muito mais opção dos encarnados que imposição dos Leões. O Benfica abdicou da segunda parte do jogo - ou, pelo menos, abdicou de tentar ampliar a vantagem - limitando-se a tentar segurar os jogadores adversários, que corriam como loucos, circulavam o esférico de um lado para outro, conseguindo entrar na defesa adversária algumas vezes, mas acabando tudo numa inconsequência confrangedora (para os sportinguistas!)

Esta vitória de sábado, conseguida em pleno estádio de Alvalade - onde imperava um Leão arrogante e de vistas curtas -, tem vários sabores agri-doces e deixa os encarnados em euforia, coisa que deveriam evitar. O sabor mais doce está no facto de ter roubado o primeiro lugar ao Sporting - coisa que os homens de Alvalade já entendiam como propriedade sua; o sabor mais amargo é que o Benfica  ainda não ganhou músculo suficiente para disputar a exigente Liga dos Campeões, ao mesmo tempo que a competitiva Primeira Liga.


O Sporting está ferido no seu orgulho, mas entre Benfica e Sporting as disputas estão resolvidas por esta época. O Leões vão ter de descarregar a sua raiva noutras paragens, ou esperar por uma competição do próximo ano para se vingar. Considerando que ainda não jogaram no Dragão, que espreita ansioso o segundo lugar - que dá acesso à milionária Liga dos Campeões -, os senhores de Alvalade devem preocupar-se tanto com o que está atrás, como o que está à frente. Estão como que entalados entre a glória total e o desespero absoluto.


O Benfica está em euforia total - saboreando esta vitória de sábado como uma cebolada. Na quarta-feira vão à Rússia, enfrentar o rico Zenit para a Liga dos Campeões e embora comecem esta segunda parte da eliminatória com uma pequena vantagem, não acredito que seja suficiente e, caso decidam abdicar do jogo como o fizeram no sábado, estão sujeitos a sofrer uma derrota humilhante, porque a estrela que brilhou na baliza encarnada em Alvalade, não se deixa enganar por equipas que não lutam pela vitória - ela brilha para os campeões mas é implacável para os cobardes.